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Pedologia no Zoneamento Ecológico-Econômico do Maranhão: mapeamento inédito revela potencial dos solos para uso sustentável

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O Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) do Maranhão, uma das principais ferramentas de planejamento territorial do estado, está promovendo uma verdadeira revolução no conhecimento sobre solos maranhenses. Desde 2018, o Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos (IMESC), em parceria com a Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), formou uma equipe de especialistas em pedologia — ciência que estuda a formação, composição e uso dos solos — e vem realizando um trabalho minucioso de mapeamento e classificação nos 217 municípios do estado.

Coordenado por Elienê Pontes e Marcelino Farias, o grupo é responsável por preencher uma lacuna de mais de 30 anos na produção de dados pedológicos detalhados no Maranhão. O levantamento considerado inédito em termos de abrangência e profundidade

Uma Metodologia Rigorosa para Classificação de Solos

O mapeamento segue o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS), uma referência técnica elaborada de forma colaborativa por pesquisadores de todo o país. O sistema divide os solos em até seis níveis hierárquicos, começando por 13 ordens principais e avançando para classificações muito específicas.

A metodologia avalia atributos morfológicos e horizontes diagnósticos, ou seja, camadas distintas do solo que indicam suas características físicas e químicas. Cada tipo de solo possui propriedades específicas que influenciam diretamente seu uso — seja para agricultura, conservação ambiental, urbanização ou outras atividades econômicas.

A classificação se baseia em:

  1. Atributos e horizontes diagnósticos: os solos são distribuídos em 13 ordens, com subordens, grandes grupos, e assim por diante, até um sexto nível categórico.
  2. Identificação e nomeação: o solo nomeado de acordo com suas características permite identificar se é fértil, pobre, se restringe a percolação de água, ou se é facilmente compactável, entre outras características.

Do Campo ao Laboratório: a análise detalhada dos perfis de solo

O trabalho de campo é fundamental. Ele é iniciado com a escavação de uma trincheira, ou perfil de solo, seguindo parâmetros determinados pelo sistema brasileiro e pelo manual técnico de pedologia do IBGE. A profundidade padrão da escavação é de 1,60 m para a maioria dos solos, mas pode variar a depender do tipo de solo e da presença de horizontes diagnósticos.

Identificação dos Horizontes:

Dentro da trincheira, são identificadas as camadas do solo, chamadas horizontes. A identificação é feita por meio de diversos parâmetros, a saber:

Cor: utiliza-se a carta de cores, com a observação visual sendo essencial. Por exemplo, uma cor escura indica presença de matéria orgânica, enquanto uma cor mais clara pode indicar empobrecimento.

Textura: identificação sensorial e, posteriormente, confirmação em laboratório.

Estrutura: o modo como as partículas do solo se agrupam.

Distribuição de raízes: raízes finas e abundantes na superfície indicam alta concentração de matéria orgânica e nutrição vegetal.

Consistência: é observada em condições seca, úmida e friável, e avaliada quanto à plasticidade e pegajosidade.

A partir da identificação dos horizontes em determinada profundidade, é possível chegar a uma classificação preliminar até o quinto nível categórico. Um exemplo citado é o de um Argissolo Amarelo Eutrófico Plintossólico, onde horizontes como A (0–17 cm), E (17–40 cm) e EB são identificados com suas respectivas texturas, estruturas e consistências. O horizonte B textural, por exemplo, é bem definido pela mudança abrupta de textura.

A Importância dos Dados Químicos e Físicos

A classificação baseada nos atributos morfológicos descritos em campo não é a final. Para confirmá-la, amostras são coletadas de cada horizonte (cerca de 1 kg de sedimento) e enviadas para laboratório, seguindo a ordem de cima para baixo para evitar contaminação. No laboratório, são analisados os atributos químicos e físicos.

Esses dados laboratoriais são cruciais, pois podem alterar a classificação preliminar. Por exemplo, uma concentração de alumínio maior do que o esperado pode mudar um solo de “eutrófico” para “distrófico”. Somente após a integração desses dados do campo e do laboratório é que se chega à classificação final do solo.

Mapeamento e Aplicações do Conhecimento dos Solos

As classificações por ponto, distribuídas em uma escala de 1:250.000, dão origem ao mapa de solos, uma das partes mais importantes do ZEE. Este mapa serve como critério para o zoneamento e para o manejo do solo para diversas finalidades, incluindo:

Urbanização: planejamento do crescimento das cidades.

Pecuária e Agricultura: otimização do uso da terra e aumento da produtividade.

Gestão Ambiental: conservação dos recursos naturais e desenvolvimento sustentável.

O trabalho é descrito como criterioso e exige escavações em diversos locais, mas resulta em dados de alta qualidade que colocam a parte de solos do ZEE-MA como uma das mais completas do Brasil. A coordenadora Elienê Pontes destacaque a Ilha do Maranhão foi uma das últimas áreas a ter seus perfis estudados, finalizando a fase de integração e consolidando o fechamento da temática de solos para todo o estado.